Carta aos Pais




É, o tempo passou e minha filha Fernanda, em seus dezesseis anos,  continuava convicta do que desejava:  "Quero fazer intercâmbio e ir para os Estados Unidos". Nanda começou a falar sobre esse assunto com treze aninhos. Desde então, mais do que fazer brincadeiras verbalizando seu sonho como uma realidade certa, ela procurava informações concretas sobre meios, maneiras e experiências de intercambistas. Quando se sentia apropriada do assunto, vinha me contar com toda a sua empolgação. Não havia cansaço ou desestímulo, mesmo comigo dizendo:  “...Minha filha, quando foi que deixei te afastares tanto assim de mim, vai trocando de sonho...”. "...De jeito nenhum...tú és muito novinha e os perigos existem...". "...Este assunto não vai te levar a nada...não conheces os perigos da vida, por isso acreditas ser tão fácil...". “...Toda a leitura que tens é de situações que deram certo e eu sei , que nem tudo é tão mágico...problemas existem...”. “...Pensa nas despesas que eu não tenho condições de assumir...”.
Independente do quanto eu negasse á sua vontade, em virtude de minhas inquietações, Nanda não desistia. Fazia leitura de revistas, investigava sobre agências de intercâmbio, internautava com inúmeras pessoas informando-se á respeito. Passava algum tempo e ela retornava com sua conversinha de vontades, sonhos, conquistas: “Olha só mãe, dá uma espiada aqui, essa menina tá contando sobre como tem sido seu intercâmbio...Olha que lindo!...”. “...Quando eu estiver nos Estados Unidos, vou  dar um jeito de me comunicar com o mundo...vou contar, mostrar a todos que quiserem ouvir e vêr sobre minha maravilhosa conquista...” . “...Dá uma olhadinha como não é tão difícil assim e que tipo de enfrentamentos poderei vir a ter...”. “Ahhh mãezinha eu quero tanto, vou lá nem que tenha de esperar minha maior idade, minha independência...”.
E assim, mesmo com minhas contradições, frequentemente eu tinha em mãos exposição de dados sobre esse processo. Em nossa casa, recebíamos ligações de agências de intercâmbio convidando para realização de visita ou entrevista explicativa.
Percebi então que não era somente uma vontadezinha passageira, um capricho e; sendo assim, no mínimo eu deveria me apropriar dessa realidade. Precisava estar preparada para contribuir e saber agir á respeito, afinal criamos os filhos para terem suas vidas e não as nossas. Mas ohhhhh, que tarefa difícil, nós, pais, precisamos mesmo estar convencidos disso.
Não obstante, Fernanda sempre foi uma menina bastante responsável, muito confiável e sem prejuízos no estudo. Logo que fez dezesseis anos, começou á realizar estágio remunerado e auto-regulava seus compromissos. A imaturidade da inocência e possíveis dificuldades em seu caminho eram minhas grandes preocupações. Mas também, era inegável que o intercâmbio poderia contribuir para com seu crescimento e trazer grandes descobertas para sua vida. Sem contar, que minha loirinha estaria feliz concretizando seu sonho, fazendo o que ela também tinha de melhor para ofertar ao estabelecer relações sociais e emocionais no seu novo mundo.
Nossa...quase morri de saudade e confesso, com um certo ciuminho de mãe:  tinha receio de que ela nem sentisse muito nossa falta uma vez que teria outra família e muito ou toda a certeza  quanto ao fato de estarmos ao seu lado mesmo que de tão longe...então, tudo seria maravilhoso....éééé, e foi mesmo.  Acredito que seu maior prêmio foi ter ganhado outra família. Nanda foi efetivamente adotada.  Recebeu mais do que socialização internacional, turismo, conhecimento organizacional, geral , cultural e  o lazer praticado nos EUA...ganhou o amadurecimento emocional pelo espaço de filha, irmã, neta, adquiriu sobrinhas(os) de pessoas americanas fenomenais...que irão ficar para sempre em seu coração e, certamente, lidar com esses sentimentos versus  distância física é algo bastante significativo na vida das pessoas.
Se acho que valeu á pena???...É só avaliar...sentir , perceber...

Abraços, Eugênia.
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